Um indivíduo senta-se à mesa para tomar o seu chá das 17:00h como de costume. Louça de porcelana revestida por detalhes dourados, de asa peculiarmente desenhada em formato tradicional. Era uma peça rara, daquelas que encontramos em antiquários, de famílias antigas e muito ricas. Para todo e qualquer visitante que aparecesse na sua casa, o indivíduo fazia questão de mostrar que era uma peça original, e não umas dessas réplicas fajutas encontradas por aí em qualquer loja. Ele havia comprado na mão de um viajante que trouxera da Europa e que lhe garantira, àquele conjunto de xícara e pires, não existia outro igual. Só ele o tinha. Era único.
Um dia, um mercador indiano bateu-lhe na porta com uma mala na mão e ofereceu ao indivíduo um jogo de jantar. Este, então, não lhe deu ouvidos e respondeu que não queria, pois já havia a mais bela das louças em sua casa. Coisa linda e sem igual em todo o mundo. Era quase sua impressão digital. O mercador não fez cara ruim, apenas pediu ao senhor que pudesse usar o banheiro e um copo de água. O tradicional homem não recusou e mandou que o indiano entrasse. O banheiro ficava na segunda porta à esqueda do corredor.
No banheiro, o mercador mexeu na maleta. Futucou, futucou, e fechou-a novamente. Já na sala, ele pôde observar a louça em cima da mesa. Bebeu aquela água com muita sede, mas a sede dele não era somente a sede de água. Então pediu mais água. O homem do chá não gostou muito. Achou que já era abuso, mas não se negou. O mercador, então, bebeu essa água com ainda mais sede. Enquanto a água descia goela abaixo, o riso ia aparecendo estranhamente na sua face, porém, disfarçado pelo copo. Terminou o último gole, colocou o copo em cima da mesa, agradeceu e foi embora.
O indivíduo atordoado, dirigiu-se para a biblioteca para ler o jornal, mas quando olhou no relógio, já era quase hora do seu chá. Correu então para a cozinha, colocou a água no fogo, separou os ingredientes do chá - maracujá, maçã e uma colher de sopa de açucar. Foi até a sala para pegar a sua xícara, e junto dela encontrou o copo de água que o mercador indiano havia usado e um bilhete que dizia: "made in taiwan". O indivíduo, injuriado, olha com raiva para aquela louça lançando-a de cima da mesa no chão, partindo-a em vários pedaços.
Há léguas daquela casa, o mercador indiano bate na porta de alguém e oferece uma louça original, peça única que pertencera a uma família rica do passado. Louça de porcelana revestida por detalhes dourados, de asa peculiarmente desenhada...
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