Toc, toc, toc.Olho a chuva pela janela e ouço as batidas na porta. Recrutada no sofá da sala, aquecida apenas pelo estofado e um casaco de lã, observo os ponteiros do relógio. Tic-tac, tic-tac, tic-tac. Vou seguindo o ponteiro dos segundos num olhar fixo.Começou com um primeiro movimento, agora ja se passaram 360. O vento sopra nas paredes da casa, as batidas na porta continuam. Nada altera a minha concentração, nem mesmo a zuada provinda das latas de lixo derrubadas pelo gato, na calçada. Estou nos 500 segundos e a solidão me acompanha. Levanto-me e sigo até a cozinha. Preparo um chocolate quente. Volto para o sofá. O silêncio paira em minha conciência e também no ambiente, cantam apenas os ponteiros do relógio. A chuva acalmou-se lá fora. As batidas na porta ja cessaram, o meu chocolate ja esfriou. Conto a casa dos 4000 segundos após novamente acomodar-me no sofá. E o meu pensamento solitário e vazio remoendo a minha solidão contínua. As minhas pernas dormecem, estão exaustas de manterem-se numa mesma posição. Então espreguiço-me. Movimento todos os músculos do meu corpo e procuro relaxar, mas o ócio de minha mente me angustia, me anseia. Um frio na barriga impede a minha tranquilidade. E depois de ter passado tanto tempo despercebido, olho novamente para o relógio, já não conto os segundos, algumas horas se passaram. A madrugada iniciara e adentrara nos pensamentos que construí. Levanto-me então com o objetivo de recolher-me para o quarto, mas antes, dirijo-me até a porta. Quem batia tão insistentemente nela? O gato que se abrigara do frio em minha varanda espantara-se ao me ver abrir a porta. No chão um lindo buquê de rosas vermelhas e um cartão que dizia "Há muito tempo que te amo, e só agora tive coragem de vir aqui e te falar". Saí pela rua a fora à procura da assinatura que faltava no cartão. A chuva retornara. No deserto e na escuridão fui obrigada a voltar para casa. Estava encharcada porém alegre. Ser feliz, agora, só dependia de mim, de ver as pessoas da maneira correta. O sol começara a raiar lá no horizonte, e junto com ele nascia a minha esperança. A Felicidade acabara de brotar da semente adormecida em meu coração.
Texto escrito por: Nicole Príncipe Carneiro da Silva [2005]
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