Quero arrancar fora toda a minha roupa e me libertar de tudo que possa me ocultar, inclusive, os pensamentos. Quero vomitar todos os meus pudores, arrancar todo o meu cabelo, desacorrentar minha alma e caminhar nua, contra o vento forte, ignorando os olhares tórridos. E, com a cabeça erguida, seguir adiante.
Quero alcançar a plenitude das sensações do que me toca. Da língua que me lambe. Do hálito. Da boca. Do que me beija ao que me corta.
Quero sentir o paradoxo entre as mãos que me acariciam o corpo e o sangue que, sobre minha pele, escorre. Rastejar o chão frio e imundo e sentir se misturar em meu corpo toda a sujeira que vem de fora. Que vem de dentro. Da mão do afago e também do asfalto.
Quero dilacerar a minha carne. Tocar o osso. O fundo do poço. E depois de sangrar todo o meu sangue em uma hemorragia, me fazer branca massa de modelar nos primeiros passos dos próximos dias.